25 de outubro de 2010

Avó


Não sei se tudo o que sou hoje foi apenas por te ter, não sei se foi por fazeres parte da minha vida, talvez seja apenas uma noite que adormeci a pensar em ti e sonhei…
Sonhei que contigo aprendi a ver mais alto, a voar, a ser maior e ao recordar todas as tuas palavras, o teu sorriso, a tua história de vida, sei que ainda tenho muito para aprender e que todas as minhas lágrimas não substituem as tuas. Só tu consegues tirar partido de mim, só tu me fazes acreditar que os sonhos são capazes de se realizar e que consigo saltar para além do céu.
Nesse sonho me fizeste esquecer o medo e a ver a vida a cores para este amor que criaste. Não sei se o mundo mudou só por te ter, talvez fizeste algo em mim que mais ninguém conseguiu fazer, cresci de recordações que vivemos as duas, aprendi a dar cor às estrelas, a dar sentido ao mundo… aprendi adormecer a dor.
 Tu abriste teu coração e caio a história de vida que passamos, as frases mais belas que disseste, o sentimento que criamos juntas e no meu coração, eu sei, que és tudo o que eu sempre quis, do meu lado tu não estas e apenas sinto o teu amparo quando ando perdida, apenas sinto a tua alma e a tua paz perto de mim quando vagueio na escuridão.
Nesse mesmo sonho, chorei por ti, a dor instalou-se no meu coração, a saudade travou a minha respiração, sentia-me sozinha e corria… corria na tua procura, perguntava: “Onde estas avó?” mas não obtive resposta. Meti os joelhos no chão e rezei, aclamei por deus e implorei para que tu não fosses embora, mas deus preferiu levar-te para longe de mim. As lágrimas corriam sobre o meu rosto como se tivessem roubado o que era meu e eu não pude fazer nada.
Acordei e vi que não era apenas um sonho, as lágrimas eram reais e a dor era verdadeira. A pergunta era a mesma: “Onde estas avó?”.
Hoje, a saudade vive no meu coração, era eu pequenina e a tua beleza era o meu fascínio, o teu carinho era único, tu podias ter pouco mas davas-me o mundo se fosse preciso, sem ti muito já não faz sentido.
Diz-me, onde estas? Avó, onde estas tu?

Descansa em Paz, Cidália Rocha

12 de outubro de 2010

História de Verão

Há 4 anos, num baile de verão, estava eu sentada a olhar para o vazio e a pensar ‘que faço eu aqui?’, não conhecia ninguém, sentia-me uma criança num recreio sem amigos. Ate que certo momento algo me fez tirar daquele vazio e concentrar-me num mero olhar. Vi alguém a atravessar o meu caminho e o meu olhar, brilhando, se fixou naquela pessoa. Alguma coisa me estava a paralisar, não conseguir desviar o meu olhar sobre o dele, parecia que nada mais existia a não sermos nós. Nunca tinha visto ele na minha vida, mas o olhar dele me encantou, parecia que o mundo me tinha caído aos pés. Passei a noite toda num simples olhar, como se estivesse a sonhar num mundo só eu e ele.
Ate que tive que me ir embora, estava tarde e nem coragem tive para ao menos saber o nome dele, não sabia nada, nome, de onde ele era, nada...
Mas ele não saia da minha cabeça e jurei a mim mesma, voltar aquele lugar nem que seja para o meu olhar se cruzar com o dele de novo.
No ano seguinte, como tinha prometido, lá estava eu, á espera… esperei… esperei… e de repente, vi uma sombra, meu coração palpitou com toda a força do mundo e quando o meu olhar se cruzou com o dele, nem quis acreditar que era ele, as minhas pernas tremiam á medida que ele se aproximava de mim, ele perguntou meu nome e logo em seguida soube o dele. Não conseguia falar nada de jeito, parecia uma menina cheia de vergonha e corada com as palavras dele, apenas queria ficar ali a ouvir ele e olhar para ele, sem que a noite acaba-se.
No fim-de-semana a seguir, voltei a reencontrar ele, conversamos, ri-mos muito juntos, dançamos, combinamos coisas juntos, sentia-me única. Ate que certo momento, a mão dele tocou na minha, o mundo parou por completo, nada havia á minha volta com apenas um simples toque, ele se aproximou e os nossos lábios se tocaram, senti-me a flutuar, foi o momento lindo, magico… e assim durou durante algum tempo.
Hoje recordo-me de tudo como se fosse ontem, nada saiu da minha cabeça, e digo que á três anos atrás, no mesmo verão nos continuamos a estar juntos, ao longo das nossas conversas, vimos que somos bastante diferente, muito aconteceu entre nos, ate estivemos um ano sem falarmos, porque as nossas diferenças chocaram muito, éramos novos não sabíamos como gerir o espaço de cada um e as opiniões de cada um. Podíamos começar bem, tudo perfeito mas acabava mal, havia sempre pessoas a intrometerem-se no que tanto construíamos, eu confundia as coisas, ele confundia também, a distancia…
Mas este último ano foi diferente, ambos crescemos e tentamos de novo.
Eu confesso que não me arrependo de ter tentado mesmo tendo na cabeça que não iria dar certo, nos somos completamente opostos, mas decidi arriscar mesmo assim.
Acostumei-me às diferenças dele e ele às minhas, cada um respeitou o seu espaço sem conflitos. O verão acabou, e ainda hoje continuamos a falar mesmo com os quilómetros que temos entre nós, nós continuamos a querer o mesmo.
E sabem o que eu digo? Quero voltar lá, e ter de novo o olhar dele atravessar o meu, sem nenhuma interrupção. E se um dia um de nós desviar o olhar, é sinal, que tudo acabou.

...

Sinto que estamos a chegar ao fim da meta. Tu imploraste para que eu ficasse mas eu estou decidida a partir. Estava tudo bem entre nós, se...